Brasil e Espanha nos Jogos Mundiais Doha 2019. Foto: Miriam Jeske/COB
As maiores campeãs mundiais no Handebol de Praia, as Seleções Brasileiras estão em busca de alternativas (de novo) para se manterem nas competições internacionais. A equipe feminina tem três títulos mundiais, a masculina tem cinco títulos, ambas possuem três ouros no Word Games. São as maiores, também, campeãs continentais, estão no topo da lista da IHF. No entanto, tantos títulos não garante ao Brasil uma estabilidade, os atletas precisam ralar muito para conseguirem se manter no esporte.
Em 2017, as Seleções não disputaram o Word Games, pois não tiveram verba para ir à Europa. Já as equipes juvenis, campeãs pan-americanas, estavam treinando para o Mundial da categoria quando souberam que não iriam disputar o campeonato. A não ida ao torneio tirou os brasileiros e brasileiras dos Jogos Olímpicos da Juventude.
Thiago Gusmão, presidente do Novo Beach Handebol Brasil (NBHb), e ex-atleta da Seleção, lembrou:
“Foram momentos muito complicados. A falta de recursos para a viagem ao World Games das seleções adultas e teve também a equipe sub-17 que não conseguiu ir aos Jogos Olímpicos da Juventude. Podemos dizer que ali foi o “embrião” do Novo Beach Handebol Brasil”, e completou: “conseguimos custear a viagem dos adultos com recursos próprios e outras ações. Mas em relação à seleção de base, que estava treinando e, com apenas três dias de antecedência, foi avisada que não viajaria, não tivemos como contornar o problema. Esse cancelamento só a CBHb pode explicar. Assim a ida do Brasil aos Jogos Olímpicos da Juventude em 2018 na Argentina ficou inviabilizada”.
Em 2018 outra luta. Os atletas novamente sem verba para competir, tiveram que fazer eventos e vaquinhas online para disputar o Mundial. Muitos pagaram a viajem, alimentação e hospedagem do próprio bolso, e as verbas arrecadas foram para pagar as dívidas. O esforço foi recompensado com o ouro no masculino e o bronze no feminino. Sobre como se prepararam, Gusmão destacou:
“Já estávamos calejados com os problemas do ano anterior. Por isso, quando chegou o comunicado da falta de recursos para a nossa viagem, nós já tínhamos feito uma movimentação prévia através de parceiros, patrocinadores e um pouco de recursos próprios. Como atleta vivenciei esses dois momentos que foram complicados, mas pontuais”.
Questionado pela Agência Brasil, Ricardo Luiz de Souza, conhecido como Ricardinho, então presidente da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb), respondeu:
“A CBHb auxiliou dentro das suas limitações. Tínhamos enviado as seleções para o Pan-Americano nos Estados Unidos, quando conseguimos as vagas para o Mundial. Tanto o Pan quanto o Mundial estavam contemplados no planejamento da Confederação para 2018, mas tivemos a não renovação do contrato de patrocínio com o Banco do Brasil de mais de R$ 15 milhões entre 2016 e 2018, e ficamos apenas com os recursos da Lei Agnelo Piva (que repassa 2% do valor arrecadado com as loteriais federais ao Comitê Olimpíco Brasil (COB) e ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Isso dificultou todas as ações planejadas para aquele período. Além de auxiliar diante dessa realidade, buscamos apoio com o COB (Comitê Olímpico do Brasil) e empresas privadas. Mas, pelo cenário à época, não conseguimos. Tínhamos também acabado de assumir a presidência da CBHb em meio a maior crise do Handebol. Porém demos toda a assistência possível naquele curtíssimo período de tempo que tivemos até o Mundial”.
Surge o Novo Beach Handebol Brasil
As dificuldades dos atletas que não conseguiam treinar para os campeonatos, a ameaça constante em ficar de fora dos campeonatos, acabou desgastando a relação entre os atletas e a CBHb. Thiago conta que
“refletimos sobre a necessidade de trabalharmos com mais força fora das quadras. Os atletas mais veteranos da seleção lideraram esse processo todo que culminou com a criação da NBHb em agosto de 2018. Nossa intenção sempre foi ajudar e andar em paralelo com a possível chancela da CBHb, por detectarmos que naquele período tínhamos visões diferentes da gestão da modalidade”
Pedro Budega, goleiro, completa:
“Muita gente queria que as coisas mudassem, que o esporte tivesse mais visibilidade. Precisávamos de pessoas correndo atrás das coisas do Beach Handebol. Dentro da Confederação, o nosso esporte sempre ficou um pouco de lado digamos assim. Mesmo com muitos títulos e mantendo o primeiro lugar no ranking, com finais em todas as competições, quando era necessário algum corte, era sempre o Beach Handebol que mais sofria. A gente sabe que as categorias de quadra também tinham problemas. Mas, a gente, por estar em um esporte que não é olímpico, acabava sempre sofrendo mais. Dificilmente recebemos alguma coisa. A gente se vira do jeito que dá. Muitas vezes, deixamos família, trabalho, às vezes ficando até sem renda. Eu não participei do processo de criação da NBHb, mas sei que a entidade surgiu com a ideia de ter uma administração mais profissional, algo no estilo do NBB. Ainda espero que a gente possa colher esses frutos”.
Sobre o trabalho desenvolvido pela NBHb, Gusmão contou que em 2018 a entidade atuou em conjunto com a Federação do Rio de Janeiro. No ano passado fecharam parceria com a CBHb, para a gestão compartilhada no Circuito Brasileiro e para o Sul-Americano.
“Entregamos um circuito com 100% de transmissão live streaming no Facebook da NBHb e da CBHb, com recursos de parceiros da nossa entidade. Auxiliamos diretamente a organização com o caderno de encargos, identidade visual e prestação de contas após cada uma das etapas mantendo sempre a transparência firmada com os clubes”, ressaltou.
Entretanto, para esse ano de 2020 não houve um acordo entre a NBHb e a CBHb. “Após o aval dos clubes, formulamos uma nova proposta de parceria para que tivéssemos a chancela da CBHB no Circuito. Mas, a Confederação nos informou que não daria a total gestão e a chancela para a gestão dessa temporada. E não foi possível manter a parceria. Para o futuro, seguimos trabalhando firme com a Federação do Rio de Janeiro para um torneio estadual e existe a possibilidade de uma competição open”.
Em julho do ano passado, ocorreu, em Maricá (RJ), a primeira edição do “Sul-Centro Americano de Beach Handebol”. Foi a estreia da NBHb à frente da organização de uma competição internacional. ” Foram sete países envolvidos. Transmissão das finais pela televisão com média de 70 mil pessoas assistindo aos jogos, um recorde para o nosso esporte, e mais de 102 mil pessoas alcançadas pelo nosso canal do Facebook, entre os dias 13 e 15 de julho. Além disso, saímos campeões no masculino e no feminino”, lembra Gusmão. O atleta Pedro Budega vai na mesma linha: “Foi algo que deu super certo. Público muito bom. Mostrando que tem muita gente que gosta do esporte no Rio de Janeiro e no Brasil”. E para fechar com chave de ouro o torneio teve dobradinha brasileira. As Seleções Feminina e Masculina levantaram as taças de campeões.
Mundial 2020 – É preciso aguardar
O Mundial 2020 seria em Pescada, de 30 de junho a 5 de julho, em Pescara (ITA, porém como foi visto aqui no Dois Minutos, em razão da Covid-2019 o torneio foi adiado. A nova sede não foi definida, entretanto deverá ser na região árabe da Ásia, pois de acordo com a Federação Internacional de Handebol (IHF), os países de regi~]ao receberão os Mundiais Juvenis e Juniores. A nova data também não foi definida.
Sobre isso, Budega pondera: “Sabemos que a Federação Internacional de Handebol gostaria de manter a competição para esse ano. Mas transferindo a competição da Europa para um país árabe, que tivesse condições de bancá-la, sem grandes investimentos de infraestrutura. Mas não temos certeza de nada ainda. Está tudo parado. Vamos aguardar”.
COB apoiou na fase de treinos
A legislação brasileira não permite que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) invista financeiramente em esportes e modalidades que não fazem pare do programa olímpico, como é o caso do Handebol de Praia. Porém a Agência Brasil, a entidade informou que através de recursos extraordinários colocou aproximadamente R$ 1,3 milhão nos dois naipes da modalidade e outros R$ 300 mil para a participação do país em Jogos Sul-Americanos. O gerente executivo de alto rendimento do COB, Sebastian Pereira, disse que:
“Em 2019, para os Jogos Sul-Americanos de Praia de Rosário na Argentina, e dos Jogos Mundiais de Praia de Doha, no Catar, o COB investiu em treinamentos preparatórios das seleções masculinas e femininas para os dois torneios. Como são competições nas quais o Comitê é responsável por organizar as delegações que representam o país, existe a possibilidade de fazer esses investimentos no ano de realização dos torneios”.
O goleiro Pedro reconheceu a ajuda do COB:
“Em 2017 e 2018, tirando o Pan-Americano de 2018, a gente praticamente não treinou. Fomos para as competições sem nenhuma fase de preparação. E, no ano passado, conseguimos treinar um pouco mais com essa verba do COB. Claro que teve a participação da Confederação para fazer o pedido da verba. E é bom registrar também que, antes de 2016, a gente tinha uma estrutura boa. Foram várias fases de treinamento, sempre com hospedagem e alimentação muito boas. Algo que não temos recebido mais da CBHb”.
*Texto Bruna Souza. Entrevistas de Juliano Justo, Agência Brasil.
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