Polêmica na França: Nantes é acusado de fazer teste de gravidez nas atletas sem elas saberem

Nantes esta no centro das discussões sobre maternidade das atletas. Foto: Surf’Up Prod / Nantes

Na última quinta-feira, 13 de fevereiro, a Associação dos Atletas de Handebol da França (AJPH) denunciou que o Nantes Atlantique Handball realizou nas atletas um teste de sangue para detectar gravidez. De acordo com a Associação, as jogadoras não sabiam do teste de hormônios e muitas se sentiram enganadas. O clube nega que fez o teste sem as jogadoras saberem, porém seis atletas disseram neste domingo, dia 16, que não foram informadas.

A publicação da AJPH denunciando o teste foi na noite de quinta-feira, mas só na sexta pela manhã que o assunto ganhou repercussão. Conforme a denúncia, revelou-se que o clube fez exame de sangue para comprovar níveis hormonais sem o consentimento das atletas, durante os testes de aptidão no início dessa temporada, 2019/2020. A Associação falou que o clube seria investigado.

Durante a tarde, Arnaud Ponray, presidente do Nantes, convocou uma coletiva de imprensa na sede do clube. O treinador Allan Heine e oito jogadoras deram a entrevista. “É verdade que os testes de gravidez foram realizados (no começo do segundo semestre de 2019). Mas é falso dizer que eles eram ilegais e realizados sem o consentimento das jogadoras. São testes realizados no início da temporada, dentro das regras, tal como entrevista individual prévia e emissão de prescrições e atestados médicos”, explicou Heine. As atletas confirmaram.

Porém neste domingo, seis jogadoras publicaram uma carta aberta, através da AJPH, para contestar a versão oficial do time. Na carta, as atletas, que não divulgaram seus nomes por medo de sofrer represálias, contaram que não foram informadas especificamente sobre o teste hormonal.

“Antes de tudo, queremos esclarecer que, na sexta-feira, metade do time recusou-se a participar da conferência de imprensa do clube, em desacordo com a versão que seria exposta, e com a presença de outros jogadores no evento, que também não estavam de acordo”. (…) Queremos apenas dizer que não fomos informadas especificamente de que os testes biológicos que fizemos, incluíram um teste de gravidez no sangue. Não é nosso papel saber se é ilegal ou não, mas simplesmente desejamos ter sido informadas de antemão e poder dar nosso consentimento. (…) Ao denunciar essa prática, esperamos que haja uma conscientização para que nenhuma outra jogadora, para que nenhuma outra mulher tenha que experimentar isso novamente no contexto de seu trabalho, seja ela atleta ou não.” (A carta pode ser lida aqui – em francês)

Ex-jogadora do Nantes diz não estar surpresa com os exames

Wendy Lawson, ex-jogadora do Nantes e atualmente no National 1, declarou para o Ouest France, que não estava surpresa com o exame de gravidez nas atletas. Lawson, que atuou no time por 2012 a 2018, contou que pequenas ações a fizeram entender que não era bem tratada, após engravidar da primeira filha, que tem 2 anos e meio. A atleta conta que na última temporada que esteve no clube não recebeu a bolsa com equipamento completo, isso foi no retorno da sua licença maternidade. “Eu assumi o cargo e não recebi a minha doação. Eu estava no Nantes por seis anos e nunca tive problema”. Wendi lembrou que em 2015 teve uma lesão e operou o ombro, retornou no ano seguinte e recebeu o equipamento completo.

Wendy relatou também: “Levei o clube (Nantes) a justiça por um bônus que não me foi concedido pelas qualificações para a EHF Cup. O Sr. Ponroy (presidente do time) decidiu que Madame Isabelle Klein (que passava muito mal no início da gestação) e eu (que saiu em licença maternidade) não receberíamos o bônus de meta. Ele não diz isso claramente, mas como se por acaso, duas jogadoras do time que tiveram um filho ou que estão grávidas não recebem o bônus de gol. Todos os outros sim. Pedi uma explicação e eu ainda estou esperando.”

Ela ressalta que se coloca no lugar do presidente, quando você recruta jogadores não quer que eles fiquem ausentes por quase um ano. Porém, ela acredita que exames de sangue realizados sem o conhecimento dos jogadores é uma forma de controle sobre o que fazem em suas vidas particulares. A gestação faz parte da vida, não é possível ignorar isso no meio do esporte.

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